sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Cap.5 - Criando o Vale


Passados alguns dias da chegada da vampira ao vale, ela já está se habituando a vida harmoniosa que impera naquele lugar. Tão diferente da vida em seu reino. Ali poderia desfrutar uma eternidade feliz ao lado de Andrês, sente isso em seu coração vampírico com todas as forças. Esse pensamento lhe atormenta por alguns instantes, mas logo
se distrai observando os seres que habitam o Vale. Tão distintos e vivendo em tão perfeita paz. Todos trabalhavam para o bem comum, unidos no mesmo propósito, cada um com seus conhecimentos e poderes, para o crescimento e fortalecimento de uma nova raça. Os Renegados. Sente curiosidade em saber como nasceu a pequena cidade onde tem vivido. Com isso em mente sai a procura de Thoderyn encontrando-o na gruta. Fica alguns instantes observando-o. Ele a percebe.
- Aproxime-se minha jovem.
- O que faz? – Pergunta interessada.
- Oh, nada demais pequena. Mas conte-me o que a traz aqui?
- Ah sim, estava pensando no vale, em como é bom viver aqui e... bem... – fica em silêncio, sem jeito de perguntar.
- Venha cá pequena, deixe-me lhe mostrar algo – o mago sai indicando um caminho estreito e sombrio, algumas tochas acesas iluminam o lugar. Em alguns poucos minutos encontram o que parece um salão, obra majestosa da natureza, no centro um pequeno poço cercado por pedras. Thoderyn para junto dele.
- Venha, é bem aqui.
Ela se aproxima sem entender muito o que se passa.
- Sente-se – o mago indica uma extremidade do poço enquanto ele se dirige a outra. Permanece parado por alguns segundos em seguida levanta seu cajado proferindo palavras desconhecidas e aponta-o para água.
- Eu invoco o passado... – pronuncia com voz poderosa.
Então ela vê imagens se formando na água, que aos poucos se tornam nítidas:
“Dois jovens fugindo a noite, mostram extremo carinho um pelo outro. A certa altura param como se tivessem ouvido alguém os chamar. Olham-se por instantes, afastando-se um pouco um do outro.”
Neste instante a vampira percebe que os jovens são Walkímera e Thoderyn.
“O jovem retira do manto o cajado e ela retira de uma pequena mochila, um punhal e um cálice. Aproximam-se um do outro novamente, recitando algo que se parece com um ritual, alguns instantes depois, ela se corta deixando escorrer o sangue para dentro do cálice, em seguida ele faz o mesmo, se dão as mãos sem interromper suas palavras. Em alguns instantes ele levanta o cajado e fazendo uma invocação aponta para o cálice repleto de sangue. Uma luz violenta se vê neste instante, quase cega a quem olha. Aos poucos a luz se abranda, ficando em volta dos dois. Repletos de amor, os jovens se abandonam num beijo intenso coroando aquele momento mágico. Então principiam um ritual de união enquanto se entregam à necessidade que um tem do outro, tudo a volta deles se transforma, aquelas terras não são mais as mesmas.”
Danshuane então percebe que aquelas novas terras são o vale que já é tão familiar aos seus olhos.
Cessam as imagens no poço e se faz um profundo silêncio. Thoderyn parece emocionado. Uma voz lá fora os tira de seu silêncio. É Walkímera chegando.
- Oh, aqui estão vocês – se aproxima sorrindo.
- Olá querida, estava mostrando à Danshuane a criação do vale.
- Eu nunca havia visto algo tão lindo em toda minha existência. Um amor tão poderoso, capaz de mudar tanto as coisas a sua volta.
- Na verdade querida, nada mudou – diz a bruxa.
- Como não? Eu vi – questiona a vampira.
- O que aconteceu na verdade é que abrimos um portal e viemos parar aqui. Desde então nosso pacto sagrado tem trazido para cá aqueles que sofrem a mesma perseguição que sofremos, por tomarem atitudes que não são bem vistas ao olhos dos seres de suas espécies. Nós os buscamos numa vigília eterna, para que possam desfrutar aqui no vale da mesma felicidade que nós compartilhamos – fala isso abraçando-se a seu marido e demonstrando o amor que sente por ele, embora tanto tempo tenha se passado.
Danshuane contempla a cena e abaixa a cabeça para que os dois não percebam a tristeza estampada em seus olhos, como se fosse possível esconder algo daqueles dois.
- O que foi querida? Por que ficou triste? – pergunta a bruxa aproximando-se e se sentando ao lado dela.
- Bem é que... – meio temerosa de dizer.
- Vamos fale, o que te aflige criança? – o mago se aproxima também.
- Sinto saudades de Andrês – ainda de cabeça baixa.
- Oh! Entendo. Mas acharemos um meio de ajudá-la, não é Thod?
- Sim querida, claro.Walkímera abraça a jovem vampira, olhando para o marido que entende a mensagem explícita no olhar da esposa. Retira-se mansamente permitindo que as mulheres permaneçam sós. Um longo e silencioso tempo se faz, em que Danshuane se permite livrar de suas dores ante o abraço tão reconfortante daquela amável bruxa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário