sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Cap.7 - Paz ameaçada

Na noite seguinte ao aniversário de Aleska todos no vale são convocados por Thoderyn à uma reunião importantíssima. Todos presentes no Jardim das Convenções, o mago se coloca em posição de oratória, chamando-lhes a atenção:
- Caros amigos. Essa é uma noite muito importante para nós.
Os moradores se entreolham sem entender o motivo. Pois que se lembrem não é nenhuma data importante ou nada sabem sobre acontecimento algum. Um grande alvoroço se forma.
- Acalmem-se todos, eu já explico o que está acontecendo – um grande silêncio se faz – Por muito tempo vivemos em paz aqui no vale. Desde que viemos para cá, nós e nossos filhos e todos os que vieram depois de nós, não tiveram um só momento de discórdia. Jamais em tempo algum tivemos que lançar mão de nossos conhecimentos e poderes contra quem quer que fosse. Mas esta era está no fim. Nossa paz está ameaçada.
Outra vez um grande alvoroço se forma entre os ouvintes. Todos questionando a cerca das declarações do mago. Não acreditam ser possível que alguém os ameaçasse. Não poderia ser, não no vale.
- Silêncio, silêncio, por favor, ouçam-me todos. É do conhecimento de vocês, que desde a chegada da vampira temos buscado um meio de ajudá-la...- Todos o ouvem atentamente - O rei tirano que escraviza o povo de Danshuane é um ser maléfico que se importa apenas com poder. Faz de tudo para conquistá-lo e tem planos terríveis para obter tudo o que quer. Tendo conquistado a coroa de TrevLuzian todos na ilha correm perigo de sofrer a mesma tirania.
- Mas como conseguiriam entrar aqui sem sua permissão senhor? – alguém pergunta em dado momento.
- Nada poderei fazer meu jovem, se o Maldito conseguir alcançar a luz da criação, que é a essência da sabedoria e da magia, abrigada no centro de nossa ilha. Com esse poder nas mãos, ninguém estará a salvo e nem mesmo minha magia o impedirá de nos achar e dizimar-nos cruelmente. Ninguém se esconde à luz de TrevLuzian nobre lord, ninguém.
- Que faremos então papai? – interrompe Lylli preocupada.
- Tem algum plano senhor? – pergunta Melveew, irmão mais moço de Kron.
- Acalmem-se, devemos nos unir contra o rei. Nós do vale e outros na ilha também. Devemos partir breve e junto enfrentarmos de uma vez esse demônio maldito que ameaça ceifar nossa paz e nossas vidas.
Por toda parte se ouve murmúrios de aprovação às palavras do velho mago.
- Partiremos daqui a duas luas e todos devem estar preparados, será uma batalha muito difícil.
Embora os habitantes do vale fossem seres amigáveis, que cultivavam e cultuavam a paz e o respeito entre as raças, na iminência de serem destruídos, sentiam-se invadidos por uma fúria sem igual. Deixavam-se dominar por seus instintos, preparavam seus corações para a batalha. Noite a dentro faziam seus planos, discutiam suas ações. Mensageiros saíram por toda a ilha convocando aliados. Breve chegaria o momento do confronto infernal.

Cap.6 - A Jovem Aleska

Naquela mesma noite outras revelações viriam. Todos os habitantes do vale estavam reunidos no Jardim das Convenções. Era uma noite especial podia-se perceber. O jardim exalava um perfume embriagante, a música alegrava os ouvidos e aquecia o coração. A magia estava explícita e o lugar parecia ainda mais belo.
Danshuane acompanhada de Lylli sente falta de Aleska e pergunta por ela.
- Minha irmã está se preparando – fala sorridente.
- Se preparando? Para que?
- É aniversário dela hoje.
- Oh! E por que não me disse antes, eu poderia preparar algo para ela.
- Ora não se incomode com isso, minha irmã não vai se importar. Venha, quero lhe mostrar algo – e sai levando a amiga.
A certa altura da festa, a música para, todos se voltam para a mesma direção. É Aleska chegando, tão bela que quase se acredita ser uma visão. Ela caminha cerimoniosamente em direção aos pais que a aguardam tranquilamente. Aproxima-se recebendo inúmeros cumprimentos, a mãe a presenteia com uma pequena caixa. Ao abrir ela vê lá dentro um bracelete. Tem o formato estranho, duas lâminas sobressaindo-se da parte superior. A mãe explica que não se trata apenas de um bracelete, mas que é uma arma e chega a ser mortal se bem utilizada, pois as lâminas são afiadíssimas e possuem um veneno poderoso. Aleska não entende o porquê de a mãe lhe presentear com uma arma daquelas pois vivem em completa paz no vale. Ao questionar a mãe lhe responde:
- Acalme-se, seu pai lhe fará entender muito em breve.
Sem mais perguntas a festa transcorre alegremente como é de costume no vale. Aleska recebe presentes e cumprimentos de seus amigos e embora esteja feliz em seu íntimo sabe que há algo de muito errado acontecendo.
A certa altura se retira da festa sem que percebam e caminha em direção a gruta. Para em frente ao poço e faz uma invocação. Espera que aquelas águas lhe possam revelar algo.
Senta-se e observa as imagens que vão se formando aos poucos, nem percebe a aproximação de alguém.
Pode ver um castelo negro, muitos vampiros reunidos, parecem tramar algo. Em dado momento vislumbra as três luas de TrevLuzian num céu escarlate. As imagens vão mudando aos poucos, ela vê uma prisão, vampiros estão sendo castigados...- Oh! Como sofrem! – mais uma vez as imagens mudam, dessa vez ela vê uma torre, algo lhe chama a atenção, há alguém na janela... – como é belo – “Aleska sente o coração bater mais forte ante aquela imagem” – e tão triste, é quase palpável a dor expressa naquele rosto...
- É meu irmão – Danshuane se aproxima correndo, com lágrimas nos olhos.
A magia da revelação se desfaz devido a aparição súbita da vampira.
- Oh Aleska – Abraça a amiga, chorando e assim permanecem por algum tempo, sentadas.
- Será que o verei novamente?
- É claro que sim. Não deves duvidar disso.
- És tão confiante.
- Aleska sorri – Meu pai me ensinou a ser assim – desde criança o sou.
- Me fale sobre isso.
- Vou te mostrar, espere – levanta-se e faz de novo uma magia em frente ao poço: - Eu invoco o passado...
“Lá está o Vale. Uma criança correndo, brincando com alguém, logo se vê que é Aleska e seu pai. Ele está ensinando a ela as artes da magia, ao que a garotinha corresponde atentamente. Desde cedo convivendo com seres tão estranhos a si mesma, foi adquirindo um pouco do conhecimento de cada um. Gostava de cavalgar com os guerreiros. Foi possível observar o ar de espanto de Aleska ao vislumbrar pela primeira vez aquele animal. Era tão pequena ainda... cavalgava quase todas as manhãs. Aprendia com os anjos acerca de deus e dos céus. E o tempo foi passando no vale e a pequena bruxa crescendo e desenvolvendo seus poderes. Sempre atenta a tudo a sua volta. Havia sempre novidades no vale, sempre alguém chegando para encanto da jovenzinha que se dedicava cada vez mais em aprender. Curiosa, se metia sempre em todos os cantos, assim acabou por aprender música com os duendes e ciganos, a manusear arco e flecha com os belos elfos, a arte da fundição com os guerreiros anões, aprendeu até mágica com os gnomos e as vezes praticava para diversão dos mais novos e para ver o belo sorriso nos lábios de Lylli, sua querida irmã. Embora as vezes achasse desnecessário, aprendeu a combater com os guerreiros, manuseando pesadas espadas que achava tão lindas. Já mais velha, aprendeu a fazer vinho com Calypsa. Pôde aprender com as fadas a nunca entrar em demandas e discussões, embora não conseguisse evitar que isso acontecesse. Passou então pela primeira perda de alguém querido, A morte de Kilowwe o primeiro lobisomem a entrar no vale. Era tão querido quanto é hoje seu descendente Kron. E depois de Kilowee vieram outras, isso foi tornando Aleska quem ela é hoje, digna e controlada. Firme em suas atitudes, muito embora não pareça às vezes. Observando os lobisomens, descobriu abrigar dentro de si a brutalidade, que de um modo ou de outro vive dentro de cada um. Certa vez, conheceu demônios e com estes pôde presenciar a ambição, a mentira e como é possível semear a discórdia.
Muitas vezes recorria ao pai para entender tantas informações contraditórias e por fim percebia que todo aprendizado é bom, e poderia vir a ser útil um dia.
Certa vez uma ninfa foi lhe mostrar sobre a sedução. Nesta época a jovem começou a se descobrir como mulher, percebia os olhares sobre si onde passava, achava interessante mas jamais pensou em se deixar levar e se envolver, pois seu coração lhe dizia que alguém em algum lugar procurava por ela e lhe ofereceria o amor que desejava ter.
Seu pai sempre lhe dizia que era alguém muito especial e que o futuro lhe reservava grandes surpresas”.
A magia se desfaz, ambas permanecem um bom tempo em silêncio, cada qual envolvida em seus pensamentos, até que Aleska convida Danshuane a acompanhá-la para casa. Vão em silêncio.

Cap.5 - Criando o Vale


Passados alguns dias da chegada da vampira ao vale, ela já está se habituando a vida harmoniosa que impera naquele lugar. Tão diferente da vida em seu reino. Ali poderia desfrutar uma eternidade feliz ao lado de Andrês, sente isso em seu coração vampírico com todas as forças. Esse pensamento lhe atormenta por alguns instantes, mas logo
se distrai observando os seres que habitam o Vale. Tão distintos e vivendo em tão perfeita paz. Todos trabalhavam para o bem comum, unidos no mesmo propósito, cada um com seus conhecimentos e poderes, para o crescimento e fortalecimento de uma nova raça. Os Renegados. Sente curiosidade em saber como nasceu a pequena cidade onde tem vivido. Com isso em mente sai a procura de Thoderyn encontrando-o na gruta. Fica alguns instantes observando-o. Ele a percebe.
- Aproxime-se minha jovem.
- O que faz? – Pergunta interessada.
- Oh, nada demais pequena. Mas conte-me o que a traz aqui?
- Ah sim, estava pensando no vale, em como é bom viver aqui e... bem... – fica em silêncio, sem jeito de perguntar.
- Venha cá pequena, deixe-me lhe mostrar algo – o mago sai indicando um caminho estreito e sombrio, algumas tochas acesas iluminam o lugar. Em alguns poucos minutos encontram o que parece um salão, obra majestosa da natureza, no centro um pequeno poço cercado por pedras. Thoderyn para junto dele.
- Venha, é bem aqui.
Ela se aproxima sem entender muito o que se passa.
- Sente-se – o mago indica uma extremidade do poço enquanto ele se dirige a outra. Permanece parado por alguns segundos em seguida levanta seu cajado proferindo palavras desconhecidas e aponta-o para água.
- Eu invoco o passado... – pronuncia com voz poderosa.
Então ela vê imagens se formando na água, que aos poucos se tornam nítidas:
“Dois jovens fugindo a noite, mostram extremo carinho um pelo outro. A certa altura param como se tivessem ouvido alguém os chamar. Olham-se por instantes, afastando-se um pouco um do outro.”
Neste instante a vampira percebe que os jovens são Walkímera e Thoderyn.
“O jovem retira do manto o cajado e ela retira de uma pequena mochila, um punhal e um cálice. Aproximam-se um do outro novamente, recitando algo que se parece com um ritual, alguns instantes depois, ela se corta deixando escorrer o sangue para dentro do cálice, em seguida ele faz o mesmo, se dão as mãos sem interromper suas palavras. Em alguns instantes ele levanta o cajado e fazendo uma invocação aponta para o cálice repleto de sangue. Uma luz violenta se vê neste instante, quase cega a quem olha. Aos poucos a luz se abranda, ficando em volta dos dois. Repletos de amor, os jovens se abandonam num beijo intenso coroando aquele momento mágico. Então principiam um ritual de união enquanto se entregam à necessidade que um tem do outro, tudo a volta deles se transforma, aquelas terras não são mais as mesmas.”
Danshuane então percebe que aquelas novas terras são o vale que já é tão familiar aos seus olhos.
Cessam as imagens no poço e se faz um profundo silêncio. Thoderyn parece emocionado. Uma voz lá fora os tira de seu silêncio. É Walkímera chegando.
- Oh, aqui estão vocês – se aproxima sorrindo.
- Olá querida, estava mostrando à Danshuane a criação do vale.
- Eu nunca havia visto algo tão lindo em toda minha existência. Um amor tão poderoso, capaz de mudar tanto as coisas a sua volta.
- Na verdade querida, nada mudou – diz a bruxa.
- Como não? Eu vi – questiona a vampira.
- O que aconteceu na verdade é que abrimos um portal e viemos parar aqui. Desde então nosso pacto sagrado tem trazido para cá aqueles que sofrem a mesma perseguição que sofremos, por tomarem atitudes que não são bem vistas ao olhos dos seres de suas espécies. Nós os buscamos numa vigília eterna, para que possam desfrutar aqui no vale da mesma felicidade que nós compartilhamos – fala isso abraçando-se a seu marido e demonstrando o amor que sente por ele, embora tanto tempo tenha se passado.
Danshuane contempla a cena e abaixa a cabeça para que os dois não percebam a tristeza estampada em seus olhos, como se fosse possível esconder algo daqueles dois.
- O que foi querida? Por que ficou triste? – pergunta a bruxa aproximando-se e se sentando ao lado dela.
- Bem é que... – meio temerosa de dizer.
- Vamos fale, o que te aflige criança? – o mago se aproxima também.
- Sinto saudades de Andrês – ainda de cabeça baixa.
- Oh! Entendo. Mas acharemos um meio de ajudá-la, não é Thod?
- Sim querida, claro.Walkímera abraça a jovem vampira, olhando para o marido que entende a mensagem explícita no olhar da esposa. Retira-se mansamente permitindo que as mulheres permaneçam sós. Um longo e silencioso tempo se faz, em que Danshuane se permite livrar de suas dores ante o abraço tão reconfortante daquela amável bruxa.

Cap.4 - Nemessis



Bem alimentada e segura junto a seus novos amigos, Danshuane repousa tranqüilamente por um longo tempo. Ao despertar percebe que está numa espécie de cripta, fôra levada a
este aposento sem se dar muita conta disso, agora podia avaliar com calma o lugar. Sentou-se e sentiu o roçar macio do tecido negro em sua pele. De fato, estava numa pequena cripta, a sua volta, castiçais ricamente adornados com pedras e das paredes pendiam cortinas de um vermelho escuríssimo, bordadas com fios de ouro. Levantando-se totalmente, deparou-se com vestes limpas aos pés de seu leito e logo em frente o banho preparado com essências agradabilíssimas em uma enorme tina de madeira. Ela despia-se lentamente, deixando aos poucos transparecer a brancura de sua pele. Aproximando-se da tina pode antever o prazer que viria a seguir, enfim mergulha seu corpo gélido naquela água morna, deixando-se permanecer languidamente ali por alguns momentos, quase adormece. Um barulho lá fora chama sua atenção, ela termina o banho rapidamente e se veste. Abandonando os aposentos seguindo por um corredor, procura por instinto a saída encontrado-a facilmente. Logo se vê em um lindo jardim, onde estão Aleska e Lylli brincando com um dragão. Ela se aproxima das irmãs que se viram para ela:
- Olá princesa, dormiu bem? – Aleska pergunta.
- Oh sim, muitíssimo – responde olhando admirada para o dragão que também a olha.
– Que bela criatura – Comenta.
As irmãs se olham e riem. O dragão permanece quieto, sem esboçar qualquer reação.
- É Nemessis, meu dragão, me acompanha onde quer que eu vá. Estava conosco ontem.
- Ontem à noite? Mas como? Não o vi, onde estava? - Danshuane replica surpresa.
As irmãs riem novamente, ao que Lylli pedindo licença, se afasta deixando as duas a sós. Aleska chega mais perto do dragão tocando-o com as duas mãos. Recita qualquer coisa incompreensível para a vampira e de repente: zás... o dragão desaparece diante de seus olhos.
- Como faz isso? Para onde ele foi?
- Meu pai me ensinou. O dragão foi um presente dele a muito tempo atrás. Foi numa noite muito especial. Era aniversário do Vale dos Renegados e eu atingira a maturidade nas artes da magia.
- Oh! Mas para onde ele foi?
- Está bem aqui – fala sorrindo.
- Onde? Não posso vê-lo. Está invisível?
- Não – com um leve sorriso ela se vira, afasta o vestido mostrando as costas.
- M-Mas é... Quer me dizer que...?
- Sim, é Nemessis. Por isso lhe disse que ele está sempre comigo, onde quer que eu vá.
Danshuane se maravilha com o que presencia. Ficam em silêncio por um longo tempo caminhando.
- Venha princesa, vamos procurar por minha irmã.
- Sim vamos.
- Ela deve estar apanhando frutas ou talvez fazendo algum feitiço por aí.
As duas riem e continuam sua caminhada tranquilamente, mantendo um diálogo agradável e despretensioso.

Cap.3 - Bem vinda Danshuane


Como era comum quando recebia-se alguém que fosse permanecer por algum tempo no vale, os moradores se reuniram no Jardim das Convenções, para dar as boas vindas a visitante. Fizeram uma linda fogueira nas proximidades do riacho, por todos os lados, tochas acesas e candelabros queimando grandes velas iluminavam a beleza encantadora do jardim, o cheiro do incenso exalava longe seu odor embriagante.
Uma grande mesa fôra montada, ricamente decorada, com uma diversidade inigualável de guloseimas de encher os olhos. Porém não havia ali, algo que servisse à convidada daquela noite, não ali naquela mesa, o que de certo modo causa apreensão aos anfitriões.
Não se deixando intimidar pela incerteza de como transcorrerá a noite, descontraídos, uns bailam ao som da música maravilhosa que toma conta do ambiente, outros brindam o mais saboroso vinho, preparado com esmero por Calypsa, a pequena deusa.
Havia por toda parte enfeites, por onde quer que se passasse uma palavra agradável e sincera. Os habitantes do vale eram felizes e há tempos viviam harmoniosamente.
A certa altura eis que enfim chegam à festa Thoderyn e sua família, acompanhados da bela jovem. Olhares curiosos se voltam para ela, a música cessa e todos abrem passagem a eles. O mago guia a vampira ao centro do jardim onde se avista uma linda fonte, belas estátuas jorram líquidos preciosos.
- Amigos, ouçam-me, esta é uma noite muito especial – se faz um silêncio absoluto enquanto o senhor do vale se pronuncia, todos o respeitam muito, pois trata-se do mais sábio e poderoso mago ali presente – Hoje brindaremos a chegada de Danshuane, essa bela jovem que aqui está – faz uma indicação para a lady – ela ficará entre nós e necessitará de nossa ajuda. Brevemente todos tomarão ciência dos problemas que a afligem. Mas por hora felicitaremos sua chegada – Mais uma vez seja bem vinda – diz dirigindo-se à vampira.
Todos repetem a saudação.
- Para que a permanência da pequena entre nós seja agradável e sem contratempos, eu e minha amada esposa preparamos uma surpresa. Walkímera se aproxima da fonte e de mãos dadas com seu marido, recita algumas palavras. O silêncio impera novamente.
O mago e a bruxa repetem as palavras ao que a vampira percebe tratar-se de um ritual. A certa altura a bruxa fecha os olhos e entoa um canto, ao reabri-los toca a fonte de onde se percebe jorrar sangue. Thoderyn apanha um cálice e enche com aquele líquido vital, oferecendo-o à jovem.
- Beba pequena, alimente-se, fortaleça-se e seja uma de nós.
Danshuane quase não acredita no que está acontecendo. Segura o cálice entre as mãos e leva aos lábios, bebendo solenemente. Aos poucos sente aquele líquido quente percorrendo-lhe as veias, enchendo-a de vida. Um certo ar de suspense se estampa no semblante dos seres a volta e por fim a música volta tocar e a festa vai noite adentro alegremente.

Cap.2 - O Vale dos Renegados

A medida que caminhavam em direção ao vale, a vampira ia ficando apreensiva.
- Não se preocupe Danshuane, ninguém lhe fará mal algum em nossa casa.
- Minha irmã tem razão – replica Lylli – não deve ficar apreensiva, somos uma grande família no Vale e logo vai perceber isto.
- Está certo, ficarei bem... mesmo
porque não devo me importar não é mesmo? Meu amado está preso e sabe-se lá a que horrores estará sendo submetido. E meu irmão? Nem sei o que pode estar acontecendo...
- Não deve se preocupar mais, nosso pai haverá de fazer uma magia que possa ajudá-la, não é mesmo Aleska?
- Creio que sim Lylli.
Poucos minutos de caminhada e as jovens irmãs param, deixando Danshuane curiosa, sem entender o motivo da parada brusca.
- Chegamos – diz uma das irmãs
- M-Mas como? Não tem nada aqui – a vampira demonstra sua confusão.
As irmãs riem ante a dúvida da pequena. Aleska se afasta um passo e profere algumas palavras que a vampira não entende, para sua surpresa, abre-se um portal bem a sua frente.
- Milady, tenha a bondade – Lylli aponta a entrada em tom cavalheiresco.
Todas riem e entram.
Danshuane pôde sentir a infinita harmonia que imperava naquele ambiente habitado por seres tão diferentes, como logo viu quando entrou. Ao passo que caminhavam ia se sentindo invadida por um sentimento de esperança grandioso. Era impressionante a magia emanada pelo lugar. De repente ela para. Um calafrio percorre seu corpo, que estremece colocando todos os sentidos em alerta ante aquela visão. As irmãs a olharam meio confusas, enquanto criatura aterradora se aproximava.
A jovem vampira recua um passo, totalmente pronta para atacar ao menor sinal de ameaça, então para sua surpresa ouve um gentil cumprimento:
- Sejam bem vindas Miladys.
Para perplexidade da bela visitante, as irmãs se dirigirem àquela figura horripilante e a abraçam com carinho, ao que são calorosamente afagadas.
- Kron, sabes de meu pai?
- Sim Aleska, sei sim...
- Precisamos vê-lo agora.
A criatura, já não tão horrenda aos olhos da vampira se dirige a Lylli..
- Por que a aflição pequena? Tem algo haver com sua nova amiga? – e olha a forasteira sem a menor indicação de rancor.
- Oh sim, tem sim...tudo – diz isso sorrindo.
- Kron, esta é Danshuane, é uma vampira, vai ficar conosco por um tempo.
- Prazer senhorita, seja bem vinda.
A jovem se encontra perdida e sem desfazer-se de sua perplexidade se vê devolvendo o cumprimento àquele ser grotesco que após o seu rei é considerado seu pior inimigo.
Kron percebendo o mal estar da vampira procura acalmá-la.
- Fique tranqüila senhorita, aqui no vale não existem inimigos, nossas raças não estão divididas como lá fora. Aqui somos todos do mesmo clã, mas creio que Aleska e Lylli já lhe disseram isso, não?
- S-Sim, já me disseram.
Enfim Danshuane se vê esboçando um quê de sorriso para aquele ser que lhe demonstrou cordialidade e se não tivesse ficando louca, até mesmo algum carinho.
- Mas diga-me Kron, onde está meu pai? – Torna Aleska.
- Oh sim, quase me esqueci disso. Ele está na gruta.
- Obrigada meu amigo – se despedem e partem em busca de Thoderyn. Danshuane não deixa de observar as belezas daquele vale, a mistura de seres ali era incrível. Ela podia vislumbrar os pequenos brincando e como podiam se entender tão bem? Fadas e gnomos brincando com pequenos demônios alados... estaria sonhando? Não, não estava, assim era o Vale dos Renegados.
Após alguns minutos de caminhada, chegaram a um pequeno jardim, lindo, com tantas variedades de flores que jamais as vira tão belas.
- Venha – Aleska indica o caminho enquanto sua irmã rodopia feliz por aquele jardim encantador – é por aqui...
Danshuane se vê descendo alguns degraus feitos com pedras em cores magníficas, tantas tonalidades. Aleska percebe o encantamento da menina e sorri.
- São pedras de Mahatti. As fadas as trouxeram e meu pai as colocou aqui.
- Oh! São lindas.
- Papai... – Lylli vem correndo ao encontro do pai que a espera de braços abertos – papai trouxemos uma amiga – e ri toda feliz.
- Sim minha pequena lady, eu sei – soltando um sorriso amistoso – eu já as aguardava.
Aleska cumprimento seu velho pai com um beijo na face e recita algumas palavras estranhas.
- Papai, quero lhe apresentar Danshuane – afasta-se um pouco.
- Aproxime-se senhorita – olhando profundamente para a jovem que se aproxima timidamente – o que trás tão bela jovem à nossa pequena vila? – pergunta-lhe enquanto lhe estende ambas as mãos para um cumprimento caloroso.
A jovem retribui o cumprimento enquanto Lylli se precipita a falar de como Danshuane foi encontrada e...
- Não seja tão afoita minha criança – o pai lhe chama a atenção – permita que sua amiga me conte o ocorrido.
- Ah papai!
- Bem eu... não sei por onde começar, aconteceram tantas coisas.
- Sentemo-nos então, venham – o velho mago indica um caminho entre as flores, até umas pedras colocadas em círculo embaixo da sombra magnífica de uma frondosa árvore.
- Sentem-se minhas crianças, sentem-se.
Todos se acomodam e voltam seus olhares pra a vampira que enfim repete toda a estória que já havia contado às irmãs ao pai delas, que a ouve atentamente.
- Oh entendo jovenzinha, é grande sua dor, mas encontraremos um remédio para isso. Ficará em nossa casa até encontrarmos um meio de livrar seu amado e todo o seu povo.
A jovem se sente aliviada e confiante e passam o resto do tempo conversando alegremente, abrindo espaço para questionamentos básicos. Lylli, curiosa, a certa altura pergunta:
- Estou intrigada com uma coisa – vira-se para a vampira – Você é uma vampira certo?
- Certo.
- Hummmm... e por que não se queimou a luz de solaris? Você já deveria ter virado areia, não é verdade?
A vampira ri gostosamente ao que as irmãs também. Lylli levanta uma sobrancelha em sinal de indagação.
- Na verdade sim. Vampiros são sensíveis aos raios ultra violetas emitidos por solaris.
- Mas então...? Não entendo.
Aleska também fica curiosa, aguardando uma resposta.
- Bem eu e meu irmão e alguns outros da nossa raça fomos presenteados pelo rei das trevas como a imunidade. Vivíamos todos no lado negro do reino, até que uma certa noite, cansados de vagarem só quando era dia, o rei e sua rainha, reuniu-se com alguns dos seus, entre esses nós seus filhos e alguns amigos. Era uma noite linda em TrevLuzian, as luas brilhavam intensamente, iluminando o jardim, nosso castelo jazia repleto dos seres noturnos, então nossas majestades se cortaram e deram de beber aos seus. Beber daquele líquido precioso, inegavelmente era desfrutar da maior emoção que poderíamos experimentar. Foi sem dúvida especial, vislumbrar as luas, minha família e meu adorado Andrês – “Ah Andrês... um breve suspiro – Nosso rei nos recomendou certo cuidado ao amanhecer, pois estaríamos frágeis ainda. Então nos preparamos para receber solaris. Foi quando sofremos o cruel ataque que tornou escrava toda nossa raça. Aquele demônio maldito matou meus pais, aproveitou que estavam fracos ainda por nos ter dado de beber seu sangue, e ele sabia que não poderiam se defender. Maldito!
Ela parou um instante com semblante amargurado.
- Bem desde então não sofro qualquer dano ao me expor a luz de solaris, porém isso custou muito caro a meus pais e muitos de nós. Nosso povo foi submetido ao domínio tirano do Maldito, assassino de quem fugi e estou aqui como sabem.
Fez-se alguns instantes de silêncio, cada qual perdido em seus próprios pensamentos. Passaram-se alguns momentos até que:
- Thoderyn - ouve-se um chamado – Thoderyn, onde estás?
Todos se voltam em direção daquela voz.
- Aqui mamãe, no jardim – Lylli se levanta indo de encontro a sua mãe e as duas retornam juntas até onde estão os outros.
- Seja bem vinda minha amada, sente-se aqui – O mago oferece um assento a sua esposa – Walkímera essa é Danshuane, ela está passando por inúmeras dificuldades e eu a convidei para ficar conosco e ofereci nossa ajuda.
- Oh sim claro, claro. Mas que bela jovem, seja bem vinda entre nós minha cara.
- Obrigada. A senhora também é muito bonita.
- Oh não! – exclama sorrindo – Senhora não, minha pequena, sou tão jovem ainda – e todos riem. Assim permanecem por um bom tempo, falando de coisas amenas.
Logo estavam todos como uma família, Danshuane se sentiu acolhida junto a seus novos amigos, quase conseguia esquecer-se das mágoas que tanto a atordoavam...
- Crianças, meu senhor, creio que está na hora de nos retirarmos.
- Venha Danshuane, quero te mostrar nossa casa – Lylli a pega pela mão não permitindo recusa. As moças vão à frente enquanto o casal vai mais atrás.
- Querido um fato me preocupa – comenta Walkímera com ar de dúvida.
- O que a preocupa minha senhora?
- A jovem vampira, sua estada aqui ano vale, em nossa casa.
- Não a entendo mulher, seja mais clara.
- Thod ela é uma vampira – diz a mulher com ar insistente.
- Oh sim...
- Oh sim, oh sim...pois bem, que serviremos à ela como alimento?
- Não havia pensado nisso – o mago se põe a pensar. Ele e a esposa param de caminhar. A certa altura a bruxa exclama:
- Tenho uma idéia, venha comigo – e arrasta o marido para um caminho oposto ao de suas filhas.